quinta-feira, 14 de junho de 2007

14 jun (Estadão)

Falta comunicação entre alunos da ocupação e reitora
Estudantes admitem sair da reitoria, sob condições, mas Suely Vilela diz que não recebeu exigências
Ricardo Westin e Renata Cafardo
A falta de comunicação entre os estudantes em greve e a reitoria tem contribuído para o impasse na crise que já dura 42 dias na Universidade de São Paulo (USP). Anteontem, os alunos admitiram que podem desocupar a reitoria se a universidade atender a pedidos como a não punição dos invasores e uma reforma nos estatutos da instituição. A reitora Suely Vilela, no entanto, diz que não pode debater com os estudantes porque ainda não apresentaram nenhum documento oficial.O documento tem sido pedido pela reitora desde a última reunião de negociação, no dia 4. Suely já afirmou que não pode atender à maioria dos pedidos. A convocação de uma Estatuinte, por exemplo, depende da aprovação do Conselho Universitário. Os estudantes votaram a intenção de desocupação, mas programaram atividades na reitoria no sábado, com um encontro que reunirá universitários de todo o País.REPORTAGEM Os funcionários da USP informaram ontem que abandonam a greve se essa for a decisão dos estudantes. O movimento já havia perdido força no começo da semana, quando professores decidiram abandonar a greve.A informação foi dada por representantes do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo (Sintusp) que participaram de uma entrevista coletiva para contestar uma reportagem publicada pelo Estado no domingo passado, que afirmou que sindicatos e partidos de extrema esquerda estão manipulando os alunos na greve e na invasão da reitoria. “É um absurdo dizer que nosso sindicato manipula os estudantes. O nosso objetivo é o mesmo dos alunos: a derrubada dos decretos (do governo paulista). Isso não está dito, mas o objetivo (do governo) é sucatear e privatizar as universidades públicas estaduais”, afirmou Magno Carvalho, diretor do Sintusp.O descontentamento dos estudantes começou no início do ano, assim que o governador José Serra (PSDB) tomou posse. Primeiro, Serra criou uma secretaria encarregada de cuidar das três universidades (USP, Unesp e Unicamp), a Secretaria do Ensino Superior, e determinou que o secretário seria o presidente do conselho de reitores. Depois, um decreto proibiu qualquer órgão estadual - incluindo as três universidades - de contratar funcionários no início de ano. Além disso, as universidades não receberam parte dos repasses de dezembro. Para concluir, as três teriam de prestar contas de seus gastos diariamente - no Siafem, o sistema informatizado de controle de gastos públicos. As mudanças provocaram a reação imediata das três universidades, que enxergaram nelas uma ameaça à autonomia de administrar os próprios gastos. Os estudantes invadiram a reitoria da USP porque consideraram que a reitora não reagiu como deveria. A entrevista coletiva de ontem, organizada pelo Sintusp, não contou com a presença de líderes estudantis, que haviam votado pela não participação nesse evento dos funcionários. Participaram alunos ligados aos partidos PSTU e PCO e à central Conlutas. O evento ocorreu no auditório do Conselho Universitário, que também foi invadido. Durante uma hora e meia, eles rechaçaram as informações publicadas pelo Estado. Disseram que o objetivo do jornal, ao citar a influência de partidos e sindicatos no movimento estudantil, é “semear uma confusão deliberada” para “deixar a sociedade contra a universidade”. Eles ameaçaram pedir aos tribunais um direito de resposta.Amanhã, as associações de funcionários, professores e estudantes da USP, da Unesp e da Unicamp participarão de uma manifestação na Av. Paulista.UNESP E UNICAMPCerca de 50 alunos invadiram ontem a diretoria na Faculdade de Ciências e Letras da Unesp em Araraquara. Eles se diziam inconformados com o fim da greve dos professores, determinado anteontem. O diretor da faculdade, Cláudio Gomide, entrará com pedido de reintegração de posse na Justiça hoje se não houver a desocupação do prédio.Na Unicamp, professores e funcionários farão hoje de manhã uma assembléia para decidir se mantêm a greve. CONDIÇÕES PARA DESOCUPAÇÃOA não punição de estudantes e funcionários envolvidos nas atividades políticas de greve e da ocupaçãoRealização de audiência pública para discutir o Inclusp, o programa de inclusão socialO reconhecimento da legitimidade do 5.º Congresso-Geral da USP, com pauta única: o Estatuinte, que será organizado a partir de uma comissão paritária composta de professores, estudantes e funcionários. O congresso deverá apontar as diretrizes para um novo estatuto da universidade Manutenção de todos os pontos da última contra-proposta da reitoria, que são:Oferecer café da manhã e almoço aos domingos no restaurante central no campus ButantãReestruturação do transporte de ônibus circular nos finais de semana no campus Butantã Quanto ao processo de cancelamento de matrículas, a reitoria propõe-se a retirá-lo do Conselho Universitário, retornando-o ao Conselho de Graduação para reanáliseCriação de comissão formada por 8 docentes e 8 alunos e/ou funcionários, que analisará e apresentará propostas sobre demais itens da pauta de reivindicações

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