quarta-feira, 13 de junho de 2007

13 jun (Estadão)

Saída da reitoria pode ser decidida em reunião nesta quarta
Na assembléia de terça, estudantes aprovaram indicativo de desocupação
Ana Carolina Moreno e Renata Cafardo
SÃO PAULO - Cerca de 200 estudantes da Universidade de São Paulo (USP) decidiram em assembléia na noite de terça-feira, 12, aprovar um “indicativo de desocupação” da reitoria com uma série de condições que serão apresentadas à reitora Suely Vilela em reunião ainda sem data definida.
Foi a primeira vez que uma plenária do grupo de alunos que apóia a ocupação ao menos sinaliza que admite o fim do protesto, que já dura 41 dias. Um novo encontro para decidir as reivindicações que serão apresentadas à reitora estava marcado para a manhã desta quarta, mas foi adiado.
Se a reitora aceitar as condições, nova assembléia, também sem data marcada, votará se a ocupação realmente termina ou não. Entre as condições discutidas na terça à noite estão a não punição dos alunos que ocuparam o prédio no dia 3 de maio e a convocação de uma Estatuinte - um congresso com representação paritária da comunidade acadêmica para definir mudanças no Estatuto da USP. Além disso, que a reitora mantenha a posição de atender às reivindicações já feitas e promova um simpósio sobre políticas afirmativas na instituição.
De manhã, o secretário estadual de Educação Superior, José Aristodemo Pinotti, havia qualificado os alunos da USP como “privilegiados” que “deveriam colocar a mão na consciência” para refletir sobre a invasão. Para Pinotti, eles não deveriam reclamar tanto de moradia, alimentação ou outros subsídios porque já recebem esses benefícios em quantidade suficiente, diferentemente do que ocorre com os estudantes pobres de universidades particulares, que não têm direito a nada. “Acho que eles têm de abandonar essa causa inexistente, sair de lá e deixar a universidade trabalhar.”
A criação pelo governo José Serra da secretaria chefiada por Pinotti foi um dos motivos para o início do movimento dos alunos. Eles acreditam que a pasta vai interferir na autonomia universitária e pedem a demissão do secretário. Apesar das declarações, Pinotti defende que o governo e a reitora Suely Vilela continuem dialogando com os estudantes.
Na terça, Pinotti participou do evento “O desafio da educação para transformar o Brasil”, que reuniu 220 presidentes de empresas nacionais e multinacionais para fazer perguntas e homenagear o ministro da Educação, Fernando Haddad. Uma das questões formuladas ao ministro foi justamente sobre a situação na USP. “O governador estendeu a mão para o diálogo”, disse o ministro sobre o decreto declaratório. “Acredito que está havendo um amadurecimento disso na USP, lentamente, mas está ocorrendo. Esse gesto do governador precisa ser considerado em toda a sua plenitude.”
O Sindicato dos Funcionários da USP (Sintusp) protocolou, na terça, na reitoria um pedido oficial de negociação com Suely Vilela. Segundo o presidente da entidade, Magno de Carvalho, a intenção é mostrar que o Sintusp não está criando um “impasse”.
Também na noite de terça, o Fórum das Seis, entidade que congrega as associações de funcionários e professores da USP, Unesp e Unicamp, se reuniu para discutir estratégias de negociação com os reitores. A próxima rodada de negociação foi marcada para segunda-feira, em Campinas.
Aulas
Apesar do fim da greve dos professores na USP, decidida em assembléia na segunda-feira, 11, algumas unidades não retomaram suas atividades normais na terça.
Na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), os alunos colocaram barricadas de carteiras e trancaram algumas salas para impedir que as aulas fossem dadas. “Como acabou a greve dos professores, vim para cá achando que ia ter aula”, disse, frustrada, a estudante Patrícia Factore, de 20 anos. Ela encontrou sua sala trancada e, ontem pela manhã, estudava no corredor.
Na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), as aulas eram normais. “Se a gente fizer greve aqui leva falta”, disse Thais Burin, de 19 anos. Segundo ela, há alunos na FEA que apóiam a mobilização dos estudantes, mas desaprovam a ocupação da reitoria.
Texto alterado às 11h48 para acréscimo de informações.

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